Artigo Prisma Planck E


Fazendas Brasileiras de Morte


Local: São Paulo, Brasil
Data publicação: 2022-10-28
Date modificação: 2022-10-28
Tempo de leitura: 00:04:33
Fazendas Brasileiras de Morte

“A nação que destrói seu solo, destrói a si mesma.”

Franklin Delano Roosevelt

 

 

Atualmente, o Brasil tem cerca de 64 milhões de hectares em terras agricultadas.  Destes, 10 milhões ou 16% da totalidade, voltados exclusivamente à plantação de cana de açúcar.

Em 2019, o país produziu 661.374.000 toneladas de cana de açúcar.  Deste total, 185.184.720 toneladas representam bagaço e 185.184.720 toneladas representam palha de cana.

Segundo o Balanço Energético Nacional 2020 (EPE), 8,4% da produção de energia elétrica no país vem da biomassa, sendo de 5,9% a participação da cana de açúcar (palha e bagaço).  Ou seja, dos 601.371 GWh (IEA) produzidos no país em 2019, 35.481 GWh foram produzidos com biomassa oriunda do setor sucroalcooleiro.  Em média, uma tonelada de cana tem a potencialidade de produção de 35kwh.  Ou seja, dos 661 milhões de toneladas produzidas em 2019, pouco mais de 101 milhões de toneladas de cana foram utilizadas na produção de energia elétrica (e.e.), no país.  A média de utilização de bagaço de cana para outras finalidades, que não a geração de e.e. é de 11,65%, o que deixa um saldo de bagaço e palha residuais a céu aberto (lixo), de 235.256.220 toneladas.  Estudos relacionados especificamente ao Brasil, demonstram que as emissões de GHG, provenientes do plantio de cana de açúcar equivalem a 2,41331593tCO2e/ha.ano; enquanto as emissões de CH4, da palha e bagaço residuais, equivalem a 1,1593tCO2e/ha.ano.

Assim, a  produção do etanol (up, mid e downstream), gera médios 619g CO2e/L; enquanto a queima do etanol, produz 1.524,2g de CO2e.

Segundo dados da Comissão Européia (DG ENER), a cadeia produtiva (up, mid e downstream) de óleo diesel gera 285,48g CO2e/L, enquanto aquela da gasolina, origina 229,89g CO2e/L.  A queima da gasolina, gera médios 2.353,4g de CO2e e aquela do óleo diesel, produz médios 2.681,7g de CO2e.

De posse destes números, vamos aos fatos.

O ciclo completo de emissão de GHG relacionado ao etanol é de 2.143,2g CO2e/L; enquanto aquele da gasolina, é igual a 2.583,29g CO2e, e do óleo diesel, 2.967,18g CO2e.

Sob um outro prisma, ou aquele dos valores absolutos, apenas o plantio e os resíduos da colheita da cana, geraram –em 2019- 32.153.544 toneladas de CO2e.  Deixando de lado questões ambientais, como a degeneração de solos em monoculturas latifundiárias ou mesmo sociais, como a impossibilidade de coexistência de pequenos e médios agricultores nestas regiões.

Segundo dados do IPCC, a uso de terra e mudança no uso da terra no Brasil, que incluem o desmatamento, produziram a emissão de 968 milhões de tCO2e, em 2019; o que responde por 44% do total de emissões de GHG do país, naquele ano.  Ou seja, 3,3% das emissões de GHG relacionadas a uso da terra, mudança do uso da terra no Brasil, são de responsabilidade do plantio e colheita da cana de açúcar.

A UNFCCC, braço da ONU que cuida das mudanças climáticas, já se pronunciou oficialmente sobre a não-adicionalidade de atividades de projeto que envolvam a produção de biocombustíveis.

O arcabouço técnico relacionado à geração de créditos de carbono, criado pela UNFCCC e adotado por todos os organismos, países e padrões sérios do planeta, vem sendo desenvolvido há 25 anos e conta com os mais renomados cientistas do mundo.

De acordo com a UNFCCC, uma atividade de projeto adequa-se à condição de geradora de créditos de carbono desde que cumpra com dois requisitos:

  • Remover (ou não emitir) um volume de GHG da atmosfera, que não ocorreria sem a atividade de projeto proposta e
  • Ser adicional.

O item 1 é óbvio.  O item 2 é o responsável pela criação do padrão, metodologias, ferramentas, diretrizes; é o 2 que cria a necessidade do Executive Board, das COPs, das MOPs, das COP/MOPs.  É o item 2 que permite a comprovação –através de evidências objetivas- da remoção de algo intangível e que contraria tanto nossa noção de trabalho, que não muda há 700 anos: somos remunerados quando agregamos algo e não quando retiramos.

Desde o fim do sistema Bretton-Woods, em 1973, a economia mundial é baseada na fé.  Como introduzir um novo elemento, que remove algo intangível, vai contra nossos instintos mais primevos de receber por agregar e que trate de algo sobre o qual jamais teremos todas as informações, como um crédito de carbono?

Com ciência.  Com evidências objetivas.  Com rigor técnico.  Com ética.

Voltemos ao Brasil.

A uma política econômica ineficaz, adira-se um ministério de meio ambiente que desconstruiu a já então frágil política ambiental que havia.  E contrariando qualquer tipo de lógica, é o ministério de minas e energia que cria um programa de governo que reserva mercado, produz falsos créditos de carbono e manipula o mercado.  O programa? RENOVABIO.  Os falsos créditos de carbono? CBIO

Evidentemente, o fato do maior contribuidor das campanhas eleitorais de 2018, ser o maior representante do setor sucroalcooleiro no país tem um grande peso.  No entanto, o descaramento chega a ponto de um representante do setor eleger-se como deputado em 2014.  Em seu único mandato, propôs a lei que cria o RENOVABIO em 2017.  Missão dada, missão cumprida.  No dia seguinte ao término de seu mandato, Evandro Gussi assumiu a presidência da União da Indústria de Cana-de-Açúcar-ÚNICA, a associação que congrega as maiores usinas produtoras de etanol, no país que mais produz etanol no planeta.

O RENOVABIO é crime de reserva de mercado e os CBIOs são fraude.  O setor sucroalcooleiro tem a maior bancada política do país e tem a banda corrupta da imprensa.

Via de regra, o mentiroso age sob estímulos da porção reptiliana do cérebro; o que nos leva ao brilhante Skinner e seu condicionamento.  Os ratos do laboratório de Burrhus Frederic eram premiados com comida, ao pressionar determinada alavanca.  Em suas próprias palavras: O condicionamento operante é um mecanismo de aprendizagem de novo comportamento.  O instrumento fundamental de modelagem é o reforço -a conseqüência de uma ação quando ela é percebida por aquele que a pratica.  Ou seja, reforçando a teoria do cérebro trino, de Paul MacLean, a porção reptiliana de nossos cérebros está ligada à sobrevivência: sexo, abrigo e comida.

Como já dito, o mentiroso –no mais das vezes- funciona como os ratinhos de Skinner, em um processo bastante elementar de estímulo-resposta.  Às vezes, porém, a mentira torna-se inconveniente e é preciso uma mentira maior para encobrir os danos causados pela primeira.  O bola de neve é o efeito dominó elevado à enésima potência e é exatamente isso que ocorre neste momento, no Brasil, com relação às fazendas de combustível e o mercado de créditos de carbono.

Não bastasse os inúmeros vexames a que nós brasileiros somos submetidos diuturnamente, decorrência das insanas ações do atual governo, relacionadas a mudanças climáticas, desmatamento, povos indígenas entre outras, há evidente falta de conhecimento geral, no que tange à economia verde.

Tão abruptamente como cogumelos depois de uma chuva na Tailândia, nos dias 18, 19 e 20 de maio de 2022, eclode um evento de grande magnitude, no Rio de Janeiro.  Fazem parte dele, o Banco do Brasil, Banco Central, a Petrobras, o Ministério do Meio-Ambiente, o ministro Paulo Guedes, CEOs das maiores indústrias do país, presidentes de bancos, presidente da maior bolsa da América Latina.  Destaques para o presidente do Santander, da B3, da Shell Brasil, da Rumo, da Raízen.  Sem dúvida, da turma não-governo do RENOVABIO, faltou o Bradesco, neste evento-cogumelo gigantesco, realizado apenas para convidados, onde participantes online não podiam opinar, apenas assistir.  Um detalhe importante:  o evento não contou com a presença de nenhum técnico.  Repito:  um evento sobre o mercado global de créditos de carbono, não contou com nenhum técnico e nenhum aspecto do arcabouço científico foi apresentado.

O RENOVABIO, é apresentado ao povo brasileiro como o “maior programa de descarbonização do mundo,” pelo Ministério de Minas e Energia.  Estranhamente, no grandioso evento MERCADO GLOBAL DE CARBONO, não há qualquer referência ao RENOVABIO.

A relação entre Skinner, a bola de neve, o cérebro trino?

O evento-cogumelo Mercado Global de Carbono é uma mentira maior –ao menos mais vistosa- do que o RENOVABIO.  Um exercício de musculatura; de exibição de poder intimidatório.

A pergunta que não quer calar: por quê?

Por que o Brasil tem um programa de governo que gera falsos créditos de carbono e por que realizou –da noite para o dia- um evento megalomaníaco, criando –do nada- um mercado global de carbono?

Porque quem dita as regras neste combalido Brasil de hoje e o setor sucroalcooleiro, dono das fazendas de combustíveis.

A produção brasileira de soja, em 2021, ocupou 39.196 milhões de ha; a de milho, 19.944 milhões de ha e a de cana de açúcar, 10.226 milhões de ha.

Somando-se COVID19 e guerra na Ucrânia, dos quase 213 milhões de habitantes, no Brasil, 33 milhões passam por algum tipo de restrição alimentar.  Mais de 15% da população brasileira tem –hoje- fome.

Enquanto isso, o governo garante que os quinze ou vinte centavos a mais, no preço dos combustíveis, permitem que o setor sucroalcooleiro remova gases de efeito estufa da atmosfera.

Os falsos créditos de carbono, que são gerados simplesmente mediante apresentação –pela usina- do volume produzido e/ou importado são escriturados por dois dos maiores bancos operando no Brasil; Santander e Bradesco e negociados na maior bolsa da América Latina, a B3.  Se não bastasse, no dia 10 de maio de 2022, estes falsos créditos de CBIO eram comercializados a R$100,00.  No dia 30 de junho de 2022, o valor destes CBIO chegou a R$209,50.  Como?

A maior produtora de etanol do mundo é a Raízen.  A Raízen gera CBIO.

A segunda maior rede de distribuidores de combustíveis do país é a Raízen, associada à Shell.  A Raízen compra CBIO para cumprir a meta imposta pelo governo aos distribuidores de combustíveis.

Enquanto isso, 33 milhões de brasileiros passam fome.


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Palavras Chave

  • Renovabio
  • etanol
  • CBIO
  • comida ou combustível
  • setor sucroalcooleiro

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