Artigo Prisma Planck E


A Epiconomia e o Futuro do Emprego


Local: São Paulo, Brasil
Data publicação: 2022-08-05
Date modificação: 2022-09-01
Tempo de leitura: 00:15:24
A Epiconomia e o Futuro do Emprego

“Toda revolução foi, a princípio, uma ideia na cabeça de um ser humano”

Ralph Waldo Emerson

A Epiconomia começa no casamento das ideias de Adam Smith com Richard Dawkins. Na bíblia da Economia, “A Riqueza das Nações”, Smith nos brinda com um profundo estudo da natureza humana. É quase como se a razão de sermos fosse negociarmos.

É interessantíssimo observar a coerência da abordagem de Smith: se a geração de riqueza tem por base o ciclo produtivo, este último tem um custo natural. Já no século XVIII, Smith trata como deseconomia o impacto ambiental gerado por um ciclo produtivo. Especificamente, trata da escassez da caça ou pesca oriunda da exploração desenfreada. Grande parte do trabalho monumental de Smith refere-se ao equilíbrio: entre oferta e demanda, entre preço e custo, entre necessidade e desejo.

Graças a Aristóteles, nós ocidentais pensamos em linhas, sendo a lógica a ferramenta deste pensamento linear. E, logicamente, Smith consegue atribuir custo a cada etapa de um ciclo produtivo mas, humildemente reconhece sua incapacidade de fazer o mesmo relativamente ao impacto à natureza causado por este ciclo, pois são tantas as variáveis, fatores e co-fatores que não temos linhas de ação e, se não temos linhas, a lógica não nos serve e, sem lógica, não há pensamento útil. Ou seja, “A Riqueza das Nações” estabelece a Economia, mas é absolutamente impotente com relação à Deseconomia.

Em nossa proposição, é aqui que entra Dawkins. “O Gene Egoísta” é um livro delicioso. Foi publicado exatamente 200 anos depois d’ “A Riqueza das Nações”, em 1976. Fundamentalmente, é o livro de um jovem e, como tal, traz uma crocância e frescor que nos revigora. O surpreendente prazer que se extrai do primeiro livro de Dawkins é sua tosquicidade: somos animais. Não somos primatas superiores, não somos especiais porque temos o polegar opositor, não somos excelentes porque pensamos. Afinal, existem animais que voam, que brilham nas profundezas do mar, que produzem vidro e polímeros a temperatura ambiente. Existem animais que produzem cola que cola embaixo d’água. E meu cachorro sonha.

É bárbaro ser humano. Mas não é especial. Eu não posso afirmar que a totalidade, mas a grande maioria dos animais vivem em ciclos produtivos neutros, uma vez que o dejeto de um ciclo é o alimento do próximo. Ou seja, acho que dá para afirmar que o ser humano é o único animal que produz lixo e isso me traz a certeza que, na cadeia evolutiva, estamos mais ou menos, no meio do caminho.

De tudo o que eu estudei na vida, onde realmente aprendi foi na Suíça. Claro que só cheguei até lá porque tive uma professora fantástica de matemática, na sétima série; um professor de biologia e outro de química maravilhosos, no primeiro colegial; um professor iluminado de história, no segundo colegial. Entrei na faculdade aos dezesseis anos e sou eternamente grata a todos estes educadores que me permitiram descobrir o prazer de aprender. Mas meu mentor, o mestre que me deu a visão foi Valentine Telegdi, dono de um prêmio Wolf da Física, meu orientador na extensão universitária em mecânica quântica que cursei no ETH.

Durante os dois anos que passei com ele, nunca recebi uma resposta. Toda vez que perguntava algo, ele me devolvia com um “o que você acha?”, porque para ele, as grandes respostas da física viriam dos jovens, sem vícios profissionais, sem certezas absolutas, sem problemas de ego ou carreiras a defender.

É bom lembrar que, além de apreender muito sobre a vida, Telegdi me ensinou também uma ou duas coisinhas sobre física.

Dentro da mecânica quântica, trabalhamos com quantidades enormes de dados e incertezas. Em seu livro “Física & Filosofia”, Heisenberg coloca brilhantemente o desespero dele e de seus não menos brilhantes colegas Planck, Bohr, Schroedinger, diante das incongruências da mecânica quântica. Imagino que as reuniões que faziam deviam assemelhar-se –em muito- a sessões de terapia de grupo. É a partir do “Princípio da Incerteza” de Heisenberg, que começa a delinear-se um método, então heterodoxo, para tratamento desses dados e incertezas. Este método é a contextualização. Só para estabelecermos um terreno comum de atuação: a análise é descendente direta de Aristóteles, sendo definida como o processo de decomposição de um tópico complexo em seus diversos elementos constituintes, de forma especializada; enquanto a contextualização é a avaliação da interrelação de padrões, de forma generalizada.

Voltando a Adam Smith, fica fácil entender a profundidade de seu trabalho analítico que origina a Economia como base da associação humana; mas somente a partir do contexto é que podemos substanciar a Deseconomia.

Tomemos por exemplo o glifosato, que é o pesticida agrícola mais utilizado no planeta.

Segundo dados da indústria química, em 2011, foram comercializados 650.000 toneladas de glifosato, que geraram uma receita de US$6,8 bilhões. Os três maiores produtores de herbicidas com base em glifosato do mundo são a Monsanto, que responde por 22% do mercado; a Bayer, que responde por 19% do mercado e a Syngenta, com 16% do mercado. Em uma abordagem direta, somente com a venda de produtos com base no glifosato, no ano de 2011, a Monsanto faturou cerca de US$1,5 bilhão; a Bayer, US$1,3 bilhão e a Syngenta, US$1,1 bilhão. Ou seja, 370.500 toneladas do produto responderam por um faturamento de quase US$4 bilhões.

Mas qual o valor da deseconomia causada por estas 650.000 toneladas de glifosato?

Baseados em tudo o que foi escrito anteriormente, passamos pela angústia de Adam Smith: para que estas 650.000t fossem produzidas, existe algum minério envolvido? Em caso positivo, qual a quantidade deste minério que existe no planeta? Qual a taxa anual de depleção? Qual a referência usada para determinação do preço deste minério? Qual o custo de produção? Em caso negativo, sendo um produto químico, como ele é produzido? Quais são as matérias-primas utilizadas? Existe um sistema para medir os danos causados por este produto? Ou seja, são tantas as possíveis abordagens para determinação do impacto ambiental causado que não é possível estabelecer –analiticamente- um único valor para a deseconomia causada.

Mas, se adotarmos o contexto ao invés da análise, todo um novo arcabouço delineia-se à nossa compreensão.

Quando tratamos das medições relacionadas às mudanças climáticas, convenciona-se o CO2 como fator de referência e que seu potencial de aquecimento global (GWP na sigla em inglês) é igual a 1. A partir daí, calcula-se o potencial de aquecimento global dos demais gases de efeito estufa.

O mesmo princípio é adotado quando tratamos dos impactos ambientais negativos causados pelo ser humano. Para tanto, adotamos a Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) do composto em questão e calculamos o Potencial de Impacto Ambiental (EIP na sigla em inglês) do mesmo. No fantástico trabalho realizado pela Universidade de Leiden, na Holanda, encontramos os resultados das ACVs de mais de 2000 compostos e seus impactos em 104 possíveis cenários.

Na prática, tomemos como exemplo 1kg de glifosato. Este composto causa impactos negativos no ar, água fresca, água marinha, solo agrícola e solo industrial.

No ar, podemos medir as emissões negativas de 1kg de glifosato nos seguintes cenários:

  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Toxicidade humana (HTP inf) – HTP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1kg de glifosato é igual a 0,003099kg equivalente (kgeq) de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.
  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Ecotoxicidade em reservas de água doce (FAETP inf) – FAETP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1kg de glifosato é igual a 22,932838kgeq de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.
  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Ecotoxicidade em águas marinhas (MAETP inf) – MAETP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1kg de glifosato é igual a 16,808816kgeq de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência ao cenário de aquecimento global.
  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Ecotoxicidade terrestre (TETP inf) – TETP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1kg de glifosato é igual a 0,0465913kgeq de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.

Nas reservas de água doce, podemos medir as emissões negativas de 1kg de glifosato nos seguintes cenários:

  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Toxicidade humana (HTP inf) – HTP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1kg de glifosato é igual a 0,066238kgeq de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.
  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Ecotoxicidade em reservas de água doce (FAETP inf) – FAETP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1kg de glifosato é igual a 1.368,227175kgeq de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.
  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Ecotoxicidade em águas marinhas (MAETP inf) – MAETP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1kg de glifosato é igual a 4,157106kgeq de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.
  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Ecotoxicidade terrestre (TETP inf) – TETP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1kg de glifosato é igual a 2,247040kgeq de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.

Na água marinha, podemos medir as emissões negativas de 1kg de glifosato nos seguintes cenários:

  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Toxicidade humana (HTP inf) – HTP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1kg de glifosato é igual a 0,000015kgeq de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.
  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Ecotoxicidade em reservas de água doce (FAETP inf) – FAETP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1kg de glifosato é igual a 0,000000kgeq de 1-4 diclorobenzeno (o impacto causado pelo glifosato na água marinha é de 2,1E-11; mas em geral, o EIP considera valores até a sétima casa decimal). Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.
  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Ecotoxicidade em águas marinhas (MAETP inf) – MAETP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1kg de glifosato é igual a 33,484579kgeq de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.
  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Ecotoxicidade terrestre (TETP inf) – TETP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1kg de glifosato é igual a 0,000000kgeq de 1-4 diclorobenzeno (o impacto causado pelo glifosato na terra é de 4,4E-14; mas em geral, o EIP considera valores até a sétima casa decimal). Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.

No solo agrícola, podemos medir as emissões negativas de 1kg de glifosato nos seguintes cenários:

  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Toxicidade humana (HTP inf) – HTP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1kg de glifosato é igual a 0,014873kgeq de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.
  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Ecotoxicidade em reservas de água doce (FAETP inf) – FAETP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1kg de glifosato é igual a 0,921647kgeq de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.
  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Ecotoxicidade em águas marinhas (MAETP inf) – MAETP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1kg de glifosato é igual a 0,002800kgeq de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.
  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Ecotoxicidade terrestre (TETP inf) – TETP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1kg de glifosato é igual a 0,096342kgeq de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.

No solo industrial, podemos medir as emissões negativas de 1kg de glifosato nos seguintes cenários:

  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Toxicidade humana (HTP inf) – HTP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1kg de glifosato é igual a 0,000649kgeq de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.
  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Ecotoxicidade em reservas de água doce (FAETP inf) – FAETP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1kg de glifosato é igual a 3,671884kgeq de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.
  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Ecotoxicidade em águas marinhas (MAETP inf) – MAETP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1kg de glifosato é igual a 0,011156kgeq de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.
  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Ecotoxicidade terrestre (TETP inf) – TETP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1kg de glifosato é igual a 0,095958kgeq de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.

Essa aborrecidíssima apresentação de todos as possíveis perspectivas (emissões negativas no ar, reservas de água doce, água marinha, solo agrícola e solo industrial) e cenários (toxicidade humana, ecotoxicidade nas reservas de água doce, água marinha e terrestre) relativa ao glifosato tem por objetivo chegar às seguintes conclusões:

Do ponto de vista emissões negativas causadas por 1kg de glifosato em suspensão (ar), as deseconomias –nos cenários de impacto- montam a 39,791344Kgeq de 1-4 diclorobenzeno;

Do ponto de vista emissões negativas causadas por 1kg de glifosato lançado em reservas de água doce, as deseconomias –nos cenários de impacto- montam a 1.374,697559kgeq de 1-4 diclorobenzeno;

Do ponto de vista emissões negativas causadas por 1kg de glifosato lançado em águas marinhas, as deseconomias –nos cenários de impacto- montam a 33,484594kgeq de 1-4 diclorobenzeno;

Do ponto de vista emissões negativas causadas por 1kg de glifosato lançado em solo agrícola, as deseconomias –nos cenários de impacto- montam a 1,035662kgeq de 1-4 diclorobenzeno;

Do ponto de vista emissões negativas causadas por 1kg de glifosato lançado em solo industrial, as deseconomias –nos cenários de impacto- montam a 3,779647kgeq de 1-4 diclorobenzeno.

Como colocado anteriormente, ao abordarmos uma questão complexa dentro de contextos, ao invés de analiticamente, podemos chegar a conclusões diversas, mas sempre utilizando a mesma unidade de medida. Especificamente sobre o glifosato, podemos concluir que o maior impacto negativo é causado por seu lançamento em reservas de água doce, enquanto sua natural aplicação em solo agrícola gera o menor impacto ambiental.

A visão contextualizada, ainda que de difícil aplicação inicial, permite a organização de sistemas complexos e a apreensão de totalidades que conduzem ao descortinamento da interrelação de padrões. A amálgama resultante da leitura d’“A Riqueza das Nações” e d’“O Gene Egoísta”e mais a minha experiência pessoal e profissional resultaram na propositura que segue.

Retomando o raciocínio lá de trás, onde coloco que o ser humano está mais ou menos na metade de seu potencial estado da arte, em termos de presença no planeta, eu diria que a Economia é ao mesmo tempo, a mola propulsora desta civilização e o ponto final das possibilidades relacionadas a esta metade do potencial estado da arte do ser humano.

Estamos vivendo em um planeta com 7,5 bilhões de pessoas. Só hoje, serão enviados 145 bilhões de e-mails, entre os 3,6 bilhões de usuários da internet. As forças armadas do planeta, somam gastos de US$3 bilhões por dia, enquanto existem 743 milhões de pessoas desnutridas no mundo e destas, 25.000 morrem de fome, todos os dias. Por ano, perdemos 1,8 milhão de hectares de florestas; 2,5 milhões de hectares de terra fértil erodem; 4,2 milhões de hectares de terras desertificam; 2 quatrilhões de litros de água serão consumidos neste ano, enquanto 610 milhões de pessoas não têm acesso a água potável. Com a atual tecnologia, temos petróleo para mais 38 anos e gás natural para mais 150 anos.

Em 2017, 5,8% da força de trabalho do planeta estará desempregada. São 200 milhões de pessoas. A taxa mundial de vulnerabilidade de empregos em 2017 será da ordem de 46% e 65% das crianças que entram hoje no primário trabalharão em empregos que não existem ainda.

Todos estes dados referem-se à Economia. A metade do caminho em nosso ciclo produtivo.

O PIB mundial de 2015 foi de US$73 trilhões e as deseconomias geradas pelos ciclos produtivos que originaram este PIB foram da ordem de US$50 trilhões.

Pois bem, se estamos introduzindo a monetização das deseconomias, uma pergunta prá lá de pertinente seria: “Como você chegou a estes US$50 trilhões?” Fácil. Trabalhoso, mas fácil. Tomemos novamente por exemplo o glifosato: já sabemos que em 2011 foram comercializadas 650.000 toneladas, que geraram US$6,8 bilhões. Partindo do princípio que o glifosato é um pesticida digamos que 1% do total impacta o ar, 95% o solo agrícola, 3% o solo industrial, 0,2% a água fresca e 0,8% a água do mar. Com cálculos baseados no EIP, teríamos:

  • Ar: 500.000kg x 39,791344=258.643.736kgeq de 1-4 diclorobenzeno;
  • Reservas de água doce: 300.000kg x 1.374,697559=1.787.106.827kgeq de 1-4 diclorobenzeno;
  • Água do mar: 200.000kg x 33,484594=174.119.889kgeq de 1-4 diclorobenzeno;
  • Solo agrícola: 500.000kg x 1,035662=639.521.285kgeq de 1-4 diclorobenzeno;
  • Solo industrial: 500.000kg x 3,779647=73.703.116kgeq de 1-4 diclorobenzeno.

A primeira etapa do processo de deseconomia proposto por Adam Smith, conseguimos cumprir: quantificar o impacto ambiental causado por um ciclo produtivo antrópico –neste caso específico- do glifosato. Vamos à segunda etapa.

Se o cenário proposto para avaliação do impacto ambiental causado pelo glifosato adota o 1-4 diclorobenzeno como fator de referência e este produto químico tem suas bases solidamente fincadas no universo da Economia, então por que não adotar este mesmo fator como referência de preços? Considerando que o preço do 1-4 diclorobenzeno gira em torno de US$2/kg (maio/2017), os 2.933.094.853kgeq de 1-4 diclorobenzeno que somamos em volume de impacto ambiental representam uma deseconomia de US$5,9 bilhões. Com esta linha de raciocínio aristotelicamente lógica, chegamos ao cálculo das deseconomias mundiais da ordem de US$50 trilhões/ano, em contraponto ao PIB mundial de US$73 trilhões/ano (2015).

Chegou a hora de interrelacionar os padrões. Considerando a Economia como a primeira etapa no caminho do ciclo produtivo do ser humano e a Deseconomia como a segunda etapa, que nos conduziria à completude do processo com a remoção ideal de todo o passivo ambiental, igualando-nos à grande maioria dos organismos que habitam o planeta, há todo um novo mercado a ser explorado. Há muito que sabíamos haver petróleo no Mar do Norte, mas sua exploração só começou com a quadruplicação dos preços, em 1973. Se agora dominamos o caminho que nos leva à exploração comercial das deseconomias de nossos ciclos produtivos, em um mercado anual de potenciais US$50 trilhões por ano, me parece óbvio que o futuro do trabalho está garantido.

É fato que nosso conceito de trabalho não muda há 700 anos e, além de nortear nossa vida, vigora a máxima onde percebemos remuneração por prestarmos algum tipo de serviço. Ainda que a maior parte da remoção física do passivo ambiental -base da Deseconomia- ocorra com a utilização de máquinas e equipamentos, os países com maior nível de pobreza certamente encontrarão meios de compensar a operação humana. Como exemplo edênico, a foz do Ganges poderia ser limpa, ou o aterro de Fresh Kills não seria a montanha mais alta da costa leste dos EUA! Não há limites para o que pode ser alcançado na Deseconomia, com a experiência que já temos com a Economia.

A operacionalidade das deseconomias deve passar por um sistema semelhante àquele de geração de créditos de carbono. O padrão ZerO2Nature é um processo amplo e complexo que começa no estabelecimento de regras para geração de créditos ecológicos; com metodologias, procedimentos, ferramentas, diretrizes e tudo o que é necessário à elaboração de um Documento de Concepção de Projeto (PDD na sigla em inglês) que uma vez terminado, passará por uma Certificadora Ambiental Designada, credenciada pelo padrão ZerO2Nature (DEC, na sigla em inglês), onde será ou não validado. Em caso positivo, o PDD segue para registro. A partir deste ponto, os créditos ecológicos começam a ser gerados. Após determinado intervalo de tempo –via de regra um ano- o proponente do projeto contrata novamente uma DEC para fazer a verificação da adequação da situação real com aquela proposta no PDD e portanto, geradora dos créditos ecológicos. No processo de verificação, a DEC produz um relatório de verificação e certificação. Uma vez constatada a coerência do PDD com a realidade, os créditos ecológicos pertinentes (são seis tipos de créditos ecológicos, referentes a preservação de biodiversidade, água, florestas, minérios, hidrocarbonetos e otimização energética) que foram emitidos pelo padrão ZerO2Nature serão convertidos em Unidades Negociáveis de Deseconomia (DTUcoins), respeitada a relação da cotação de mercado do crédito ecológico específico, e depositados na conta do proponente do projeto no DTUcoin Bank, na Holanda. Além de operar como moeda, as DTUcoins também podem ser retiradas do mercado através da aposentadoria. Uma companhia de exploração de minérios aposenta créditos do tipo PREMIN, enquanto uma petroleira aposenta créditos PRECARB. As DTUcoins aposentadas retiram do sistema ZerO2Nature os créditos especificamente ligados aos processos produtivos das empresas, sempre respeitadas as cotações do mercado. Em termos de moeda virtual, a DTUcoin, foi criada em 2015 como uma evolução da Bitcoin (ou BTC ou XBT): a DTUcoin tem lastro físico e sua geração ocorre através da realização de projetos de remoção medida de emissões negativas antrópicas. No caso da Bitcoin: a cada dez minutos, a rede detentora da moeda cria e distribui um novo lote (de no máximo 50 BTCs) entre os computadores que estão rodando o programa de mineração da moeda. Este novo lote propõe um desafio criptográfico, que envolve diversos ciclos de tentativa e erro. Evidentemente, quem possui maior poder de processamento tem maior probabilidade de sucesso. Quando a solução é encontrada, seu anúncio é feito à toda a rede e deve passar por um processo de validação. Em caso positivo, o solutor recebe seu prêmio em BTCs e o lote é adicionado à Blockchain (cadeia de blocos, uma espécie de livro-caixa de contabilidade pública). Entre 2009 e 2012, foram criadas 10.500.000 Bitcoins e a cada quatro anos a recompensa por minerar um bloco cai pela metade; o que significa que o volume máximo de Bitcoins em circulação deverá girar em torno de vinte e um milhões.

A DTUcoin opera de modo absolutamente diverso.

Não há como provar que o aquecimento global é antrópico, como não dá para provar que não é. Tudo o que diz respeito ao Planeta, baseia-se no estudo de cenários, pois não é possível encerrar a Terra em um laboratório e –empiricamente- provar-se a teoria A ou B.

O que dá para fazer e surpreendentemente nunca fizemos, é removermos nosso tangível e mensurável impacto ambiental negativo. Não sabemos se a sociedade como a conhecemos sobreviveria a uma concentração atmosférica de CO2 de 0,06%; não sabemos se o aumento da concentração do CO2 na atmosfera ocorre por conta de nossa atividade no Planeta ou se é o Sol o grande vilão. Mas sabemos que a foz do Ganges entupiu com o volume de lixo ali acumulado; sabemos que existe a grande mancha de lixo do Pacífico, com uma área de quase 700 mil km2. Sabemos que em função do acidente de 1976 em Seveso, na Itália quando os tanques de TCDD (2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina) da ICMESA romperam, causando a morte de 3.000 animais e o sacrifício de outros 70.000, estabeleceu-se o “Parâmetro Seveso”, que determina o alcance e gravidade de contaminação ambiental.

A intangibilidade do crédito de carbono certamente está atrelada à perspectiva científica adotada pelo IPCC. Ao tratar o aquecimento global como antrópico, trazemos a complexidade que nos é imensuravelmente desconhecida da Natureza para dentro de nossos cálculos e, a partir daí, nos perdemos em discussões filosóficas pró e contra esta ou aquela teoria.

Tomados em cenários antrópicos, os créditos ecológicos são absolutamente tangíveis e nos conduzem às DTUcoins. Podemos gerar créditos de água (PREHYDRO), de minérios (PREMIN), de hidrocarbonetos (PRECARB), de redução de emissões em processos industriais (PRONER); podemos gerar créditos de preservação de vida (PREBIO) e de florestas (PREFOR) se, ao invés de abarcarmos a imensidão dos sofisticados processos naturais, tratarmos de compreensíveis e humanas totalidades.

Ao buscarmos a inserção dos ciclos produtivos antrópicos em contextos cada vez mais abrangentes, seremos capazes de adequar nosso pensamento aristotelicamente linear à complexidade dos sistemas, sem nos perdermos pelo caminho.

Tomemos por exemplo uma refinaria de petróleo ZerO2Nature, trabalho que apresentei com sucesso na Conferência da ONU “Rio + 20”. A proposta é a contabilização de todas as emissões negativas do ciclo produtivo e sua neutralização face as condições ambientais locais. Uma refinaria de petróleo instalada em uma área já saturada para as emissões negativas decorrentes do processo de refino de petróleo será muito mais difícil de neutralizar do que uma localizada em uma zona de ambiente insaturado àqueles compostos.

Todo ciclo produtivo antrópico é mensurável e reversível. Fato é que a geração do produto final a que este se refere, causa ecoimpactos, no mais das vezes, negativos. São estes impactos ou deseconomias que, até agora, foram tratados como intangíveis. Ao reduzirmos o ecoimpacto negativo à dimensão do ciclo produtivo antrópico e o contextualizarmos em sua localização espacial, não estamos fazendo mais do que adotando um cenário. Ora, se contamos com 104 cenários consagrados pela ACV e inserimos a deseconomia decorrente do ciclo produtivo antrópico no cenário ou cenários que lhe é –ou são- mais adequado(s), conseguimos tangibilizar a deseconomia, com a simples adoção do valor mercadológico do padrão de equivalência adotado pelo cenário.

Exemplificando, tomemos as reservas mundiais de ouro: no cenário de linha de base CML, 1999, da depleção abiótica das últimas-últimas reservas de elementos – ADP elements (Guinee et al. 2001), o padrão é o quilograma de antimônio-equivalente. Neste cenário, a depleção mundial abiótica do ouro (para o ano-referência de 2000) é de 1,35E+8, enquanto a emissão anual, da ordem de 2,59E+6; portanto, o EIP do ouro é 52. Ou seja, a preservação monitorada de um kg de minério de ouro no padrão ZerO2Nature, dentro dos parâmetros estabelecidos pela metodologia, gera 52 créditos do tipo PREMIN. Como o cenário em questão adota o antimônio como fator de equivalência, estabelecendo a relação desta deseconomia com o cenário econômico mundial (tomando-se o New York dealer price for 99,5% to 99,6% metal, c.i.f. U.S. ports) onde, em 2016, o antimônio foi comercializado a US$5,028/kg, chegamos a um valor de mercado relacionado à depleção abiótica das reservas últimas do ouro, em sua baseline, de US$261,46/kg.

Uma simples mudança de perspectiva, sugerida pelo padrão ZerO2Nature, pode consubstanciar uma abordagem inteiramente nova no tratamento financeiro das deseconomias, atribuindo-lhes tangibilidade e, consequentemente, valor de mercado.

Mas qual seria o parâmetro comparativo para avaliação do padrão ZerO2Nature? Primeiramente, àqueles familiarizados com o processo de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL, da UNFCCC, sugeriríamos uma comparação direta – ponto a ponto- onde a conclusão seria que o ZerONature espelha sua concepção técnico-científica e rigor implementativo no CDM. Porém, propõe-se a avançar, onde o CDM opta por parar: o padrão ZerO2Nature foi desenvolvido para operar como uma plataforma de comercialização de deseconomias.

Àqueles não familiarizados com os mecanismos de flexibilização do tratado de Kyoto, a sugestão é no sentido de comparar o ZerO2Nature ao padrão ISSO; especificamente à família da ISO 14.000. Neste caso, podemos observar que, enquanto o padrão ZerO2Nature trata da remoção de impactos antrópicos negativos, a ISO refere-se apenas aos gases de efeito-estufa; enquanto a ISO14064-1 propõe (Para 2, 2.27) um grau de confiança razoável ou limitado, para validação e verificação de inventários de gases de efeito-estufa, o ZerO2Nature propõe validações e verificações in situ, com comprovação dada através de evidências objetivas; enquanto a mesma norma recomenda a quantificação dos gases de efeito-estufa, o padrão ZerO2Nature não aceita um projeto que não tenha suas emissões negativas medidas e inventariadas.

Podemos afirmar que o ZerO2Nature é um padrão que traz em si toda a consistência e rigor técnico-científico apreendidos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo aliados à flexibilidade e fácil compreensão que o mercado espera de um produto a ser adotado. Se a Bitcoin revoluciona a Economia tradicional, a DTUcoin a evoluciona e nos abre as portas da Deseconomia.

Se o lastro da Bitcoin é um dispêndio real de energia elétrica e de capacidade de processamento dos computadores, a DTUcoin tem um lastro físico na remoção medida de emissões antrópicas (ou deseconomias) em contraste com as moedas tradicionais que, desde Bretton-Woods, não possuem qualquer tipo de lastro real. Alguém que queira negociar Bitcoins deve utilizar uma carteira online, enquanto os negócios em DTUcoins ocorrem através do banco digital DTUcoin Bank. Vale lembrar que esse não é um mercado regulado nem possui um agente garantidor dos depósitos. É possível obter Bitcoins de três modos: minerando, vendendo bens e aceitando receber nessa moeda ou comprando diretamente de outros usuários ou de sites de câmbio virtual. De forma semelhante, é possível obter DTUcoins através da geração (atividades de projeto ZerO2Nature), compra direta, ou vendendo bens e aceitando receber em DTUcoins. Tanto no sistema Bitcoin como no DTUcoin as compras e vendas são feitas diretamente entre usuários, sendo que o site que anuncia os bens e serviços a serem comercializados é geralmente corresponsável pela entrega efetiva do produto ou serviço. No caso da Bitcoin, a segurança dos pagamentos e das carteiras é garantida por um sistema de duas senhas: a chave pública, de conhecimento geral, que permite a qualquer um transferir Bitcoins para essa carteira e a chave privada, que permite apenas ao dono da carteira autorizar transferências da moeda. Um negócio só se concretiza quando o comprador assina digitalmente a transferência com sua chave privada. Como todos os computadores da rede são informados da transação qualquer tentativa de fraude ou roubo é imediatamente percebida pela rede p2p (par a par ou ponto a ponto, é uma interrelação de redes de computadores onde cada um destes é tanto cliente como servidor, o que garante maior multiplicidade de compartilhamentos de dados, sem a centralização de servidor). A segurança do sistema de Blockchain é tanta, que hoje mesmo os bancos tradicionais estão migrando para este tipo de operação. Evidente que os modelos de negócio virtuais configuram um atrativo enorme para os hackers; tanto por conta da conquista do desafio, como por desonestidade pura, com apropriação indébita de valores. Em fevereiro de 2014, a então mais importante plataforma de negócios em BTCs, a Mt Gox faliu, em consequência de uma falha no sistema, que permitiu o roubo de centenas de milhares de Bitcoins.

Bitcoin e DTUcoin: moedas ou commodities?

Devido à natureza híbrida e também inovadora das moedas digitais p2p, algumas questões aparentemente intuitivas ou óbvias devem ser levantadas, a fim de definir os parâmetros que norteiam a pesquisa. A exemplo das energias complementares àquela gerada com a queima de hidrocarbonetos, tanto a Bitcoin como a DTUcoin não têm um caráter competitivo face a moeda tradicional, mas sim de complementaridade. Um outro aspecto importante seria a definição mercadológica destes novos instrumentos. A internet possibilita a conexão direta entre as pessoas do mundo todo, o que facilita a troca e o compartilhamento de informações de modo, até agora, inusual. A Bitcoin surgiu com o objetivo de criar um sistema de pagamento alternativo, que pudesse retirar o agente financeiro intermediário -tanto público como privado- da realização de negócios. Comprovado o incontestável sucesso desta nova abordagem mercadológica, a DTUcoin evolve da Bitcoin, trazendo em si toda a liberdade e flexibilidade do mercado p2p e indo além, com seu lastro físico e a resposta cristalina e elegante que apresenta à questão proposta por Adam Smith: qual o valor monetário da deseconomia causada pelos ciclos produtivos? Ou seja, com a monetização clara, simples e efetiva dos impactos ambientais, um novo mercado acontece, onde à Economia dos ciclos produtivos, somamos a Deseconomia, definida como a compensação monetária pela remoção contabilizada do impacto ambiental negativo causado pelo ser humano. Neste novo sistema financeiro, encontramos a Epiconomia, que literalmente vai além do que hoje tratamos por Economia. A Epiconomia é a soma dos modelos de negócio da Economia e da Deseconomia; com resultados financeiros que chegam perto da duplicação do PIB mundial. A consequência direta e irreversível da utilização maciça da DTUcoin é um mundo cada vez mais limpo.

Em sua elegante existência, a DTUcoin preenche as cinco condições que definem uma moeda:

  1. é meio de pagamento;
  2. é reserva de valor;
  3. é unidade de referência de preços;
  4. é divisível;
  5. é de fácil manuseio.

Tanto a Bitcoin como a DTUcoin caracterizam-se como fenômenos intrinsecamente internacionais. Tendo tudo isso em mente, como avaliar o grau de liquidez da Bitcoin ou da DTUcoin? Não há uma autoridade central que oficialmente seja responsável pela, regulação do mercado, que garanta seu valor ou promova sua aceitação; mas centenas de milhões de pessoas exercendo este papel sem que haja a possibilidade de manipulação de dados, de abuso de poder. Adira-se a isso uma consciência ecológica cada vez maior por parte do consumidor e dificilmente poderíamos contar com um cenário cataclísmico para as DTUcoins.

Propriedades das moedas complementares

Somos todos preguiçosos. Comprovadamente. Biologicamente, estamos submetidos à Estase, situação em que uma espécie estabilizada tende a ter dificuldades de sair da inércia genética.

Podemos observar esta tendência à situação desde a nossa rotina matinal até o momento em que vamos dormir: o ser humano é uma criatura de hábitos. Como se explica, então, tudo o que inventamos e continuamos a inventar?

Simples. A capacidade de nos maravilharmos com algo a tal ponto que a inércia genética é vencida e, a partir daí, nada mais nos detém. E cada vez que criamos algo novo, criamos também a necessidade de adequação. As moedas virtuais, por exemplo. É certo que a descentralização do sistema gera um arcabouço onde a flexibilidade é a regra. Podemos fazer negócios com o mundo inteiro, a qualquer hora; sem manipulações políticas ou cartelização. O Estado já não pode congelar nosso dinheiro ou espoliar-nos. As taxas de mercado são consequência natural deste e não resultado de impostos escorchantes necessários à compensação de incompetência, má-gestão ou simples corrupção. Evidente que isso não interessa aos governos. Em 2015, a Holanda liderou governos do mundo inteiro em uma dura campanha de ataque à Bitcoin, com diversas matérias na imprensa relatado a utilização da moeda na “dark internet” (o submundo da internet, onde todo tipo de negócio ilícito é realizado), desde seu uso no tráfico de drogas, como mercado ilegal de armas, prostituição e escravidão humana. Na ocasião, a moeda sofreu um baque, passando de US$1.112,00 em novembro de 2013 para US$228,00 em maio de 2015. Com o tempo, as pessoas se deram conta desta manipulação por parte de governos e instituições financeiras tradicionais e, a partir de junho de 2015, a cotação da Bitcoin vem subindo solidamente. Em 12 de maio/2017, a moeda estava cotada em US$1.832,00.

Conforme colocado anteriormente, as moedas virtuais, como a Bitcoin e a DTUcoin, são complementares àquelas nacionais até que o Estado as aceite para pagamento de tributos e impostos. Vencida nossa inércia genética, é certo que a popularidade e a confiança da Bitcoin e DTUcoin vêm crescendo muito rapidamente, caracterizando uma evolução nos meios de pagamento.

Economia e o fim do trabalho

No início desta proposição, adoto a perspectiva do ser humano como animal com um ciclo produtivo a cumprir e -diferente dos demais organismos do planeta- sua incapacidade atual de lidar com o passivo ambiental produzido por este ciclo. A partir daí, acho que poderíamos reconhecer a Economia como fator intrínseco da produtividade humana e, sendo assim, me parece bastante coerente a relação entre a poluição e o fim do trabalho.

No livro “A condição Humana”, Hannah Arendt discorre brilhantemente sobre as possibilidades de vida ativa em nossa civilização. Para ela, são o labor, o trabalho e a ação as possibilidades de atividade para o ser humano, dentro de quatro possíveis universos: o político, o social, o público e o privado.

Arendt define o labor como “a atividade que existe para produzir tudo que é vital ao homem, onde ele retira da natureza tudo que é necessário para a manutenção da vida”. O labor tem caráter biológico, sendo muito mais ligado ao instinto do que à capacidade de pensamento. Ainda que seja um ciclo repetitivo de “labuta, consumo e regeneração para novamente labutar”, o labor é a fundação da condição humana para manutenção da vida.

Já o trabalho é a aplicação do homem, de sua capacidade de transformar a Natureza. É através do trabalho que o ser humano cria um hiato entre si e a Natureza, um mundo artificial que acaba por tornar-se sua realidade. Os objetos do trabalho sobrevivem a seu criador, e esta possibilidade passa a ser a mola-mestra do homem que, colocando suas esperanças na perpetuidade de sua obra, ameniza a angústia de sua morte.

E finalmente a ação, para Arendt, é a atividade mais nobre do ser humano que, como animal social exemplar, visa o bem comum; estabelece a ética e exerce as virtudes desta decorrentes; busca a iluminação através de seu próprio aperfeiçoamento. A ação é a única atividade que se realiza entre os homens sem a necessidade da matéria, sendo o dom da palavra a expressão máxima da capacidade humana de pensar.

É interessante observar porque, entre as três atividades que definem a condição humana, o trabalho nos é tão caro. Se o labor é necessário à manutenção de nossa vida e a ação permite a convivência, é no trabalho que encontramos a pacificação de nossa morte pessoal, intransferível e iminente.

No século passado, os Estados Unidos assistiram sua força de trabalho humana no campo cair de 41% para 2%, por conta da evolução no emprego de máquinas e produtos químicos tanto no plantio como na colheita; No final dos anos 1940, existiam mais de 350.000 telefonistas somente na AT&T, nos Estados Unidos; hoje, são menos de 10.000 no país inteiro. Nos anos 1950, milhares de ascensoristas no mundo inteiro perderam seus empregos, quando a tecnologia permitiu que os passageiros escolhessem o andar. Nos anos 1960, os estivadores tornaram-se obsoletos, com o advento de guindastes e contêineres que mudaram o sistema de carga e descarga dos navios.

Até então, o ultrapasse da mão de obra era aplaudido; afinal, o mundo vivia uma fase de florescimento da Economia e tanto um telefonista quanto um ascensorista facilmente encontravam novas colocações. Quanto aos estivadores, um trabalho tão pesado que beira a escravidão, ainda que pessoalmente a perda do emprego fosse um fardo, via de regra eram homens fortes, ainda muito procurados pela Produção da época e, sob o aspecto social, a modernização dos portos certamente recebeu um olhar aliviado.

1961 é o ano que marca a criação e emprego do primeiro robô na indústria. O processo de soldagem na fábrica da GM, em New Jersey ganha o Unimate. Concomitantemente, os computadores são introduzidos nas operações de fábrica e agora, não é a mão de obra, mas o homem que se torna obsoleto.

Estima-se que até 2040, perto de 70% dos empregos atuais não mais existirão e há dúvidas abissais quanto ao futuro do trabalho, seja por aumento da população mundial, maior expectativa de vida ou avanço tecnológico. No entanto, a grande verdade é que os governos e seus relativos departamentos vêm tratando a questão como o elefante e o bando de cegos: um problema gritante, aparentemente sem solução, onde cada parte é avaliada como melhor convém, sem que o todo seja jamais discutido.

Epiconomia e o futuro do trabalho

No final do século XIX tem início a Economia do petróleo. Em 2016 o mundo produziu e consumiu 98 milhões de barris de óleo cru por dia. Neste mesmo ano, e ainda diariamente, o mercado movimentou cerca de 480 milhões de barris de cru. Este produto é comprado e vendido, inúmeras vezes, por pessoas que jamais viram um barril de óleo na vida. Nós vivemos a era do petróleo porque este é a commodity mais forte da Economia. Na NYMEX (bolsa de valores de Nova York), existem contratos sendo negociados até 2032. É certo que este mercado só existe porque todos os dias, há uma disponibilidade mínima, na cidade de Cushing - Oklahoma, de 700 mil barris de óleo cru do tipo WTI; no porto de Rotterdam, Holanda, a disponibilidade mínima é de 300 mil barris de óleo cru do tipo Brent Blend; o porto de Fateh, Emirados Árabes Unidos, disponibiliza 200 mil barris diários de cru do tipo Dubai; enquanto os 80 mil barris por dia de petróleo do tipo Tapis estão diariamente disponíveis no terminal de Kerteh, na Malásia. WTI, Brent, Dubai e Fateh são os principais petróleos-referência do planeta. É em função dos preços destes crus que os preços dos outros 35 tipos de petróleo comercializados no planeta são estabelecidos. Mas o mais importante, quando voltamos à fundação do trabalho de Adam Smith, onde ele afirma que a produção é a base da riqueza dos países, podemos compreender a solidez filosófica da Economia. É a existência e possibilidade real de utilização física destes petróleos-referência, seu potencial beneficiamento, redundando em produtos que o ser humano utiliza e –acima de tudo- nossa fé cega nestes fatos que permite a transformação que um cenário econômico Smithiano, onde a geração de riqueza envolve a comercialização diária dos 98 milhões de barris em um cenário econômico Cresiano, onde a riqueza gerada é fruto da comercialização de 480 milhões de barris por dia.


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Palavras Chave

  • impacto ambiental
  • Adam Smith
  • Richard Dawkins
  • glifosato
  • análise de ciclo de vida

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