Artigo Prisma Planck E


O Dinheiro que veio do Lixo


Local: São Paulo, Brasil
Data publicação: 2022-08-08
Date modificação: 2022-09-01
Tempo de leitura: 00:08:16
O Dinheiro que veio do Lixo

É fácil ou impossível

Salvador Dalí

A monetização das deseconomias não é nada mais do que uma expressão bem mais bonita para fazer dinheiro com lixo.

De acordo com dados da Agência Internacional de Energia, o Banco Mundial e o Departamento de Administração de Informações sobre Energia dos EUA, em 2014 os seres humanos utilizaram 215EJ (duzentos e quinze exajoules ou ainda 215x1018 joules) de energia para produzir 3,4 trilhões de toneladas de 1962 elementos, combustíveis fósseis, minérios, hidrocarbonetos halogenados aromáticos e não aromáticos, compostos aromáticos e não-aromáticos, pesticidas, metais, compostos inorgânicos, PAH (hidrocarbonetos policíclicos aromáticos) e elementos/compostos radioativos.

E daí? Daí que estes produtos resultam na base física da Economia que move o planeta. Mas cada um dos ciclos que resulta no montante de produtos acima descrito gera um passivo ambiental.

Vamos dizer que este passivo ambiental seja a “Deseconomia”.

Quando a indústria do petróleo começou, no final do século XIX, o único produto com valor econômico, à época, era o querosene, substituto do óleo de baleia na iluminação. A produção de querosene traz, como produto lateral, a gasolina. Como não havia utilidade para a gasolina, nos anos 1800, esta era despejada nos rios. Ou seja, há 160 anos, a gasolina era uma “deseconomia”.

Mas como colocar todas as deseconomias sob um mesmo padrão?

Fácil. Pegamos a deseconomia em questão e vemos quais os tipos de impactos que ela causa: ar, água, solo, saúde humana e quais as consequências: uso de solo; mudanças climáticas; depleção de reservas de minérios, de hidrocarbonetos, da camada de ozônio; toxicidade humana, de águas, de solos; etc. Uma vez estabelecidos todos os possíveis impactos desta deseconomia, aplicamos as regras do padrão ZerO2Nature e transformamos lixo em dinheiro.

Para exemplificar, vamos ver como transformamos as garrafas plásticas de água e refrigerante em moeda.

Os frascos acondicionadores de refrigerantes e águas minerais são compostos, fundamentalmente, de politereftalato de etileno (PET). As tampinhas são de polietileno de alta densidade (HDPE) e os rótulos, de polipropileno (BOPP) ou polietileno linear de baixa densidade (LLDPE).

Em 2016, foram produzidas 800.000 toneladas em garrafas PET no Brasil, o que significam mais 50.000 toneladas de tampinhas e rótulos. Dessas, cerca de 50% foram recicladas. Ou seja, 400.000 toneladas de PET, na forma de garrafas vão para o lixo, comprometendo o uso de solo; para o mar e reservas de água fresca; comprometendo as águas e, indiretamente, a saúde humana. Ou seja, as garrafas plásticas jogadas na Natureza impactam negativamente o ar, o solo (lixões/aterros), a água e a saúde humana. Como agente unificador de medição das emissões negativas adotamos o Potencial de Impacto Ambiental ou EIP, na sigla em inglês. Para não cortar a dinâmica do texto com números, publicamos ao final deste artigo os cenários adotados e EIP respectivos.

Estatísticas das agências ambientais dos EUA e Europa apontam o seguinte destino para as garrafas plásticas depositadas na Natureza, em países não-OCDE:

  • 60% lixões/aterros sanitários;
  • 10% reservas de água doce;
  • 30% águas marinhas.

Voltando à nossa proposta inicial, sabemos que 400.000 toneladas de PET e 25.000 toneladas de PE na forma de garrafas plásticas foram indevidamente descartadas, no Brasil, em 2016. Assim sendo, temos como calcular seu impacto ambiental:

Do PET:

  • 000t relacionadas ao transporte (mudanças climáticas). Com base no potencial de impacto ambiental do PET com relação ao aquecimento global, são 2.316.000 teq de CO2, que representam 2.316.000 F-DTUs, que são créditos ecológicos do sistema ZerO2Nature ligados ao aquecimento global;
  • 000t relacionadas à toxicidade humana. Com base no potencial de impacto ambiental do PET na saúde humana, são 1.688.000 teq de 1-4 diclorobenzeno que representam 1.688.000 B-DTUs, que são créditos ecológicos do sistema ZerO2Nature ligados a toxicidade humana.
  • 000t para aterros sanitários/lixões. Com base no potencial de impacto ambiental do PET no solo, são 986,4 teq de 1-4 diclorobenzeno que representam 986 B-DTUs, que são créditos ecológicos do sistema ZerO2Nature ligados a ecotoxicidade terrestre;
  • 000t para rios/lagos. Com base no potencial de impacto ambiental do PET nas reservas de água doce, são 56.400 teq de 1-4 diclorobenzeno e 436 teq de fosfato, que representam 56.400 B-DTUs, que são créditos ecológicos do sistema ZerO2Nature ligados ao ecotoxicidade de reservas de água doce e 436 H-DTUs, que são créditos ecológicos ligados a preservação de reservas hídricas;
  • 000t para o mar. Com base no potencial de impacto ambiental do PET no mar, são 924.000 teq de 1-4 diclorobenzeno e 6.900 teq de dióxido de enxofre, que representam 924.000 B-DTUs, que são créditos ecológicos do sistema ZerO2Nature ligados ao ecotoxicidade de reservas de água marítimas e 6.900 H-DTUs, que são créditos ecológicos ligados a preservação de reservas hídricas.

Do PE:

  • 000t relacionadas à toxicidade humana. Com base no potencial de impacto ambiental do PE na saúde humana, são 118.000 teq de 1-4 diclorobenzeno que representam 118.000 B-DTUs, que são créditos ecológicos do sistema ZerO2Nature ligados a toxicidade humana.
  • 000t para aterros sanitários/lixões. Com base no potencial de impacto ambiental do PE no solo, são 90 teq de 1-4 diclorobenzeno, que representam 90 B-DTUs, que são créditos ecológicos do sistema ZerO2Nature ligados a ecotoxicidade terrestre;
  • 500t para rios/lagos. Com base no potencial de impacto ambiental do PE nas reservas de água doce, são 4.125 teq de 1-4 diclorobenzeno e 35 teq de fosfato, que representam 4.125 B-DTUs, que são créditos ecológicos do sistema ZerO2Nature ligados ao ecotoxicidade de reservas de água doce e 35 H-DTUs, que são créditos ecológicos ligados a preservação de reservas hídricas;
  • 500t para o mar. Com base no potencial de impacto ambiental do PE no mar, são 59.250 teq de 1-4 diclorobenzeno e 510 teq de dióxido de enxofre, que representam 59.250 B-DTUs, que são créditos ecológicos do sistema ZerO2Nature ligados ao ecotoxicidade de reservas de água marítimas e 510 H-DTUs, que são créditos ecológicos ligados a preservação de reservas hídricas.

E finalmente chegamos ao que interessa. Sabemos que o passivo ambiental ou deseconomia causada pelo descarte de garrafas plásticas no Brasil, em 2016 gerou um impacto que, se retirado da Natureza e apropriadamente reciclado, geraria 2.850.851 B-DTUs e 7.971 H-DTUs. Mas precisamos computar as emissões relacionadas ao transporte, de 2.316.000 teq de CO2 que implica na aposentadoria de 2.316.000 F-DTU. O valor de conversão da F-DTU atualmente é de €10; da B-DTU é de €15 e da H-DTU é de €50.

Ou seja, se ao invés de causar poluição, as garrafas plásticas tivessem sido apropriadamente recicladas, elas teriam gerado uma receita de €20 milhões ou R$75 milhões relativos à geração de créditos ecológicos.

Para gerar créditos ecológicos, o PET reciclado pode ser utilizado na fabricação de tecidos; cordas; material de escritório; caixas d’água, tubos e conexões; torneiras, piscinas, telhas; carpetes; mármore sintético; tintas e vernizes; forração e partes plásticas de automóveis e caminhões; bancos de ônibus, trem e metrô; material esportivo, aparelhos telefônicos, eletrodomésticos, etc.

Monetização de deseconomia: ZerO2Nature transformando lixo em dinheiro.

CENÁRIOS ADOTADOS E EIP RESPECTIVOS

Pois bem, então, vejamos o impacto ambiental do PET:

No ar, podemos medir as emissões negativas de 1 tonelada de PET no seguinte cenário:

  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Aquecimento Global GWP100 – GWP100 (IPCC, 2007). Neste cenário, o EIP de 1t de PET é igual a 5,79t equivalentes (teq) de CO2.

Nas reservas de água doce, podemos medir as emissões negativas de 1 tonelada de PET nos seguintes cenários:

  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Ecotoxicidade em reservas de água doce (FAETP inf) – FAETP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1t de PET é igual a 1,41t equivalentes (teq) de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.
  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Eutrofização EP (Heijungs et al. 1992). Neste cenário, o EIP de 1t de PET é igual a 0,0109t equivalentes (teq) de fosfato. Neste caso, o fosfato é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.

Nas águas marinhas, podemos medir as emissões negativas de 1 tonelada de PET nos seguintes cenários:

  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Ecotoxicidade em águas marinhas (MAETP inf) – MAETP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1t de PET é igual a 7,7t equivalentes (teq) de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.
  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Acidificação AP (Huijbregts, 1999; average Europe total, A&B). Neste cenário, o EIP de 1t de PET é igual a 0,0575t equivalentes (teq) de dióxido de enxofre. Neste caso, o dióxido de enxofre é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.

No solo, podemos medir as emissões negativas de 1 tonelada de PET no seguinte cenário:

  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Ecotoxicidade terrestre (TETP inf) – TETP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1t de PET é igual a 0,00411t equivalentes (teq) de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.

Agora, vejamos o impacto ambiental do PE:

Como já consideramos o transporte das garrafas plásticas no cálculo das emissões negativas do PET e a garrafa é transportada com rótulo e tampinha, podemos afirmar que No ar, as emissões negativas de 1 tonelada de PE já foram computadas.

Nas reservas de água doce, podemos medir as emissões negativas de 1 tonelada de PE nos seguintes cenários:

  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Ecotoxicidade em reservas de água doce (FAETP inf) – FAETP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1t de PE é igual a 1,65t equivalentes (teq) de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.
  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Eutrofização EP (Heijungs et al. 1992). Neste cenário, o EIP de 1t de PE é igual a 0,014t equivalentes (teq) de fosfato. Neste caso, o fosfato é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.

Nas águas marinhas, podemos medir as emissões negativas de 1 tonelada de PE nos seguintes cenários:

  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Ecotoxicidade em águas marinhas (MAETP inf) – MAETP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1t de PE é igual a 7,9t equivalentes (teq) de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.
  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Acidificação. AP (Huijbregts, 1999; average Europe total, A&B). Neste cenário, o EIP de 1t de PE é igual a 0,068t equivalentes (teq) de dióxido de enxofre. Neste caso, o dióxido de enxofre é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.

No solo, podemos medir as emissões negativas de 1 tonelada de PE no seguinte cenário:

  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Ecotoxicidade terrestre (TETP inf) – TETP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1t de PE é igual a 0,006t equivalentes (teq) de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.

É bem importante notar que além dos impactos negativos causados diretamente ao meio-ambiente, em termos de contaminação de solo, ar e reservas de água (doce e marítima), a decomposição da garrafa plástica tem um potencial significativo de comprometimento da saúde humana. Assim sendo:

Com relação à saúde humana, podemos medir as emissões negativas de 1 tonelada de PET no seguinte cenário:

  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Toxicidade humana (HTP inf) – HTP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1t de PET é igual a 4,22t equivalentes (teq) de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.

Com relação à saúde humana, podemos medir as emissões negativas de 1 tonelada de PE no seguintes cenário:

  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Toxicidade humana (HTP inf) – HTP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1t de PET é igual a 4,72t equivalentes (teq) de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.


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Palavras Chave

  • economia circular
  • meio ambiente
  • gerenciamento de lixo
  • toxicidade humana
  • impacto ambiental

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