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Descartes e a Glândula Pineal

“O surrealismo é destrutivo, mas destrói apenas

o que considera ser algemas limitando nossa visão.”

Salvador Dali

 

Em sua filosofia, René Descartes associa duas entidades antinômicas: a matéria, como a expressão da concretude da realidade e a consciência, como algo imaterial.

O dualismo de Descartes é um poço sem fim de problemas.  Por exemplo, como uma consciência imaterial se relacionaria com o mundo material, já que considera matéria e consciência como entidades antagônicas e dotadas de existência própria?

Como pensava e, portanto existia, a interface ocorreria em um ponto bastante específico do cérebro, que ele denominou glândula pineal.  Por seu intermédio, o espírito reagiria aos humores e paixões da carne.  E exatamente nesta glândula, residiria a possibilidade do homo elevar-se!

Os impulsos primevos, como o ódio ou o desejo residiriam nesta porção minúscula e –para o filósofo- completamente separados do corpo, que considerava uma máquina perfeita e totalmente submetida às leis da física.  Clássica, evidentemente.

Ainda que a consciência definitivamente não resida no endereço proposto por René, a dualidade mente-corpo, consciência-matéria ou a busca pela relação entre a relação entre o que somos (consciência) e o que temos (corpo), permanece.

E, se vamos julgar Descartes ridículo, por ter proposto algo do gênero, vamos ter que colocar muita gente extremamente inteligente, nesse barco, porque tudo reflete sempre o zeitgeist ou espírito da época.

Sigamos o exemplo socrático, melhorado pela poesia de Ezra Pound:  Sei que nada sei.  Cheguei muito tarde à ignorância absoluta.

Humildade, é o nome do jogo.

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