Artigo Prisma Planck E


Cui Bono? Uma Pergunta muito Importante


Local: São Paulo, Brasil
Data publicação: 2022-08-09
Date modificação: 2022-09-01
Tempo de leitura: 00:04:35
Cui Bono? Uma Pergunta muito Importante

“O cara só é sinceramente ateu quando está muito bem de saúde”

Millôr Fernandes

Voltando ao tópico da monetização das deseconomias ou como fazer dinheiro com lixo, vamos avaliar as possibilidades de geração de riqueza com um dos mais complicados e amedrontadores tipos de dejetos: o lixo hospitalar

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a maioria do lixo hospitalar (75-90%), é um lixo não infeccioso, o que significa que pode ser tratado como resíduo sólido municipal geral. Os 10-25% restantes são considerados perigosos, pois são radioativos, tóxicos ou infecciosos.

Em meados dos anos 1980 vieram a público diversas notícias relacionadas a deposição ilegal de lixo hospitalar, mas foi no início dos anos 1990, com a epidemia de AIDS no planeta que as autoridades viram-se obrigadas a tomar medidas mais rigorosas, com multas altas e maior fiscalização, visando acalmar a população.

Por conta dessa situação, hoje os hospitais tendem a extrapolar em segurança, tratando como resíduos perigosos cerca de 50% do total produzido.

Conforme a legislação brasileira, os resíduos hospitalares obedecem à seguinte classificação:

GRUPO A: Resíduos com a possível presença de agentes biológicos que, por suas características de maior virulência ou concentração, podem apresentar risco de infecção.

GRUPO B: Resíduos contendo substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública ou ao meio ambiente, dependendo de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade.

GRUPO C: Quaisquer materiais resultantes de atividades humanas que contenham rádio nuclídeos em quantidade superior aos limites de eliminação especificados nas normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) para os quais a utilização é imprópria ou não prevista.

GRUPO D: Resíduos que não apresentam risco biológico, químico ou radiológico à saúde ou ao meio-ambiente, podendo ser equiparados aos resíduos domiciliares.

GRUPO E: Materiais perfuro-cortantes ou escarificantes, tais como: lâminas de barbear, agulhas, escalpes, ampolas de vidros, brocas, limas endodônticas, pontas diamantadas, lâminas de bisturi, lancetas, tubos capilares, micro pipetas, lâminas e lamínulas, espátulas, e todos os utensílios de vidros quebrados no laboratório (pipetas, tubos de coletas sanguíneas e placas de Petri) e outros similares.

Segundo a OMS, um hospital gera –mediamente- de 7 a 10kg de resíduos por leito, por dia. Ou seja, um hospital com 345 leitos, gera cerca de 1.100t de lixo por ano, sendo que cerca de 183t (em um cenário ideal) referem-se a resíduos perigosos.

Consideremos este passivo total como “deseconomia” e calculemos quais os tipos de impactos que ele causa no ar, água, solo, saúde humana e quais as consequências: uso de solo; mudanças climáticas; depleção de reservas de minérios, de hidrocarbonetos, da camada de ozônio; toxicidade humana, de águas, de solos; etc., sempre dentro da mais estrita observação da lei. Uma vez estabelecidos todos os possíveis impactos desta deseconomia, aplicamos as regras do padrão ZerO2Nature e transformamos este lixo assustador em dinheiro. Como agente unificador de medição das emissões negativas adotamos o Potencial de Impacto Ambiental ou EIP, na sigla em inglês. Para não cortar a dinâmica do texto com números, apresentamos ao final deste artigo os cenários e valores dos EIP que foram utilizados nos cálculos.

Conforme estatísticas das agências de vigilância sanitária dos EUA e EU nos países não-OCDE é dado o seguinte destino ao lixo hospitalar:

  • 62% é devidamente depositado em aterros sanitários;
  • 35% é tratado a altas temperaturas;
  • 3% é indevidamente depositado em aterros sanitários/lixões.

Voltando ao nosso exemplo inicial de 1.100t de lixo por ano, sendo que cerca de 183t (em um cenário ideal) referem-se a resíduos perigosos, temos como calcular seu impacto ambiental:

  • Com base no potencial de impacto ambiental do lixo hospitalar com relação ao aquecimento global, são 371 teq de CO2, que representam 3.371 F-DTUs, que são créditos ecológicos do sistema ZerO2Nature ligados ao aquecimento global;
  • Com base no potencial de impacto ambiental do lixo hospitalar no solo, são 984,55 teq de 1-4 diclorobenzeno que representam 5.984 B-DTUs, que são créditos ecológicos do sistema ZerO2Nature ligados a ecotoxicidade terrestre e 1.471 teq de petróleo que representam 1.471 C-DTUs, que são créditos ecológicos do sistema ZerO2Nature ligados à depleção abiótica de insumos fósseis;
  • Com base no potencial de impacto ambiental do lixo hospitalar na saúde humana, são 835 teq de 1-4 diclorobenzeno que representam 227.835 B-DTUs, que são créditos ecológicos do sistema ZerO2Nature ligados a toxicidade humana.

Evidentemente que estes cálculos referem-se a uma abordagem teórica. Quando fazemos o projeto, todas as emissões negativas devem ser computadas através de evidências objetivas e abatidas do volume de créditos gerados.

Outro fator muito importante a se considerar é a linha de base. Para que seja gerador de crédito, um projeto deve cumprir duas condições: retirar um volume de emissões negativas que não ocorreria na ausência do projeto e ser adicional.

A adicionalidade do projeto fica estabelecida através da quebra de barreiras econômicas, tecnológicas ou sociais; sempre relativamente à linha de base.

Mas, o que é linha de base? É o negócio usual, como aquele tipo de atividade é comumente realizado.

Então a retirada e reciclagem adequada do lixo hospitalar gera créditos ecológicos? Sim. A linha de base é a retirada destes resíduos do hospital, seu transporte para o local de tratamento, o tratamento a altas temperaturas de 35% deste material e a deposição dos resíduos em aterros/lixões, sendo que 3% do resíduo hospitalar é ilegalmente depositado na Natureza.

Sendo este o cenário de linha de base, qual seria a condição de adicionalidade de um projeto? Se o resíduo for tratado in situ, ao invés de ser transportado, a adicionalidade refere-se ao combustível economizado, tanto dentro do cenário de aquecimento global como no cenário de depleção abiótica de insumos fósseis. Se garantirmos, através de evidências objetivas, que todo o material de classe A, B e E é devidamente inertizado e utilizado como matéria-prima para outro ciclo, também comprovamos a adicionalidade e, finalmente, se este processo gera algum tipo de energia, há possibilidade de obtenção de créditos também relacionados à esta energia renovável, com a aplicação de metodologia adequada.

Dentro da situação aqui proposta, os únicos créditos que não seriam obtidos seriam aqueles relacionados à toxicidade terrestre, pois esta situação já é contemplada pela linha de base.

E finalmente chegamos ao que interessa. Sabemos que o passivo ambiental ou deseconomia causada pelo lixo hospitalar do exemplo citado é de:

  • 371 teq de CO2, pertinente ao aquecimento global;
  • 984,55 teq de 1-4 diclorobenzeno, pertinente a ecotoxicidade terrestre;
  • 471 teq de petróleo, pertinente à depleção abiótica de insumos fósseis;
  • 835 teq de 1-4 diclorobenzeno, pertinente a toxicidade humana.

Como a ecotoxicidade terrestre já está contemplada na linha de base, os seguintes créditos ecológicos são gerados com este exemplo:

  • 262 F-DTU;
  • 471 C-DTU;
  • 835 B-DTU.

O valor atual de conversão da F-DTU é de €10; da B-DTU é de €15 e da C-DTU é de €25.

Ou seja, o tratamento adequado de 1.100t/ano de lixo hospitalar, pode gerar uma receita adicional de €3.656.920,00 ou quase R$14 milhões relativos à geração de créditos ecológicos.

Em tempo: cui bono? significa “quem se beneficia?”. Neste caso, todos nós, ao investirmos na saúde da Terra.

ZerO2Nature transformando lixo em dinheiro.

CENÁRIOS ADOTADOS E EIP RESPECTIVOS

No ar, podemos medir as emissões negativas de 1 tonelada de lixo hospitalar nos seguintes cenários:

  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Aquecimento Global GWP100 – GWP100 (IPCC, 2007). Neste cenário, o EIP de 1t de lixo hospitalar transportado (do hospital para o local de tratamento, com estimados 60km/dia) é igual a 18,42t equivalentes (teq) de CO2;
  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Aquecimento Global GWP100 – GWP100 (IPCC, 2007). Neste cenário, o EIP de 1t de lixo hospitalar tratado a alta temperatura (autoclavagem/incineração) é igual a 13,18t equivalentes (teq) de CO2;
  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Aquecimento Global GWP100 – GWP100 (IPCC, 2007). Neste cenário, o EIP de 1t de lixo hospitalar depositado (aterros/lixões) é igual a 0,57t equivalentes (teq) de CO2.

No solo, podemos medir as emissões negativas de 1 tonelada de lixo hospitalar nos seguintes cenários:

  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Ecotoxicidade terrestre (TETP inf) – TETP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1t de lixo hospitalar transportado (do hospital para o local de tratamento) é igual a 2,53t equivalentes (teq) de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global;
  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Ecotoxicidade terrestre (TETP inf) – TETP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1t de lixo hospitalar tratado a alta temperatura (autoclavagem/incineração) é igual a 1,15t equivalentes (teq) de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global;
  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Ecotoxicidade terrestre (TETP inf) – TETP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1t de lixo hospitalar depositado (aterros/lixões) é igual 4,18t equivalentes (teq) de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global;
  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Depleção abiótica – ADPfossil fuels (after Guinee et al. 2001). Neste cenário, o EIP de 1t de lixo hospitalar transportado (do hospital para o local de tratamento) é igual 5,42t equivalentes de petróleo (tep). Neste caso, 1 tonelada de petróleo é adotada como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global;
  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Depleção abiótica – ADPfossil fuels (after Guinee et al. 2001). Neste cenário, o EIP de 1t de lixo hospitalar tratado a alta temperatura (autoclavagem/incineração) é igual 1,80t equivalentes de petróleo (tep). Neste caso, 1 tonelada de petróleo é adotada como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global;
  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Depleção abiótica – ADPfossil fuels (after Guinee et al. 2001). Neste cenário, o EIP de 1t de lixo hospitalar depositado (aterros/lixões) é igual 20,80t equivalentes de petróleo (tep). Neste caso, 1 tonelada de petróleo é adotada como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.

É bem importante notar que além dos impactos negativos causados diretamente ao meio-ambiente, em termos de contaminação de solo e ar, o lixo hospitalar tem um potencial significativo de comprometimento da saúde humana. Assim sendo:

Com relação à saúde humana, podemos medir as emissões negativas de 1 tonelada de lixo hospitalar nos seguintes cenários:

  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Toxicidade humana (HTP inf) – HTP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1t de lixo hospitalar transportado (do hospital para o local de tratamento) é igual a 66,52t equivalentes (teq) de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global;
  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Toxicidade humana (HTP inf) – HTP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1t de lixo hospitalar tratado a alta temperatura (autoclavagem/incineração) é igual a 2,28t equivalentes (teq) de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global;
  • Orientação de enfoque do problema: linha de base (CML, 1999) – Toxicidade humana (HTP inf) – HTP inf. (Huijbregts, 1999&2000). Neste cenário, o EIP de 1t de lixo hospitalar depositado (aterros/lixões) é igual a 41.500t equivalentes (teq) de 1-4 diclorobenzeno. Neste caso, o 1-4 diclorobenzeno é adotado como fator equivalente, analogamente ao que ocorre com o CO2, adotado como referência do cenário de aquecimento global.


Livros Planck E


Palavras Chave

  • lixo hospitalar
  • meio ambiente
  • gerenciamento de lixo
  • toxicidade humana
  • adicionalidade

Para maiores informações sobre Prisma Planck E, entre em contato.


Divulgando soluções geniais

A missão do Prisma Planck E é promover ideias, produtos e teorias que ainda não chegaram ao mainstream, conforme capturado em nosso primeiro comunicado Excêntricos e suas Soluções Geniais.



Boletim Prisma

Inscreva-se para receber o nosso Boletim Prisma Planck E, completo com as mais recentes soluções geniais. Clique aqui para o formulário.



Compartilhe a sua solução genial no Prisma Planck E

Incentivamos você a enviar sua solução genial, artigo, comunicado à imprensa ou ideia técnica "fora do mainstream" para publicação no Prisma Planck E. Envie-nos um e-mail para prisma@planck-e.com e pergunte como.


Para saber mais sobre engenharia holística, soluções inspiradas na natureza, monetização de deseconomias, petróleo e gás, treinamentos ou incorporação do Being Data ao seu dia-a-dia, siga-nos nas redes sociais.