“Você pode ficar tão bravo quanto um cão raivoso
com a maneira como as coisas aconteceram..”
Scott Fitzgerald
Quando comecei a estudar mecânica quântica, meu mundo caiu.
Lembro-me com uma riqueza de detalhes assustadora o momento em que, durante a primeira aula, no primeiro dia, Valentine Telegdi nos alertou para um detalhe que, segundo o mestre, deveria –a partir dali- balizar nossas existências: nós somos resultado da estabilidade de padrões formados por partículas anônimas e intercambiáveis.
Foi como um coice de mula na testa.
Nada, em mim, sou eu. Nada é perene e a continuidade do ego só ocorre por conta de uma propriedade que emerge da interrelação destes complexos padrões estáveis, chamada consciência.
Quando comecei a escrever A Dieta Transcircadiana encontrei em minhas pesquisas um estudo de David Sinclair, professor de genética no Instituto Blavatnik, da Escola de Medicina de Harvard. À época –menos de dois anos atrás- ele estava buscando o mecanismo que serviria de gatilho ao processo de rejuvenescimento que vinha estudando há mais de uma década.
Semana passada, seu paper –com a solução- foi publicado.
Evidentemente, há muito o que se considerar, até que o avanço esteja a nós disponível. No entanto, o trabalho de Sinclair é absolutamente genial. Trata-se de uma constatação de que nossos organismos só envelhecem porque a comunicação da informação genética a partir do DNA sofre choques que “causam pânico ao sistema.”
Sinclair e equipe constataram também que nosso DNA tem uma espécie de backup da juventude que pode ser acionado a qualquer instante e diversas vezes. Nos testes, conseguiram rejuvenescer um rato a cerca de metade da sua idade cronológica. O que também é interessantíssimo, é que o processo não retroaje como no Curioso Caso de Benjamin Button, o que causaria câncer; mas estabiliza-se por volta da metade da idade real do sujeito.
Telegdi tinha razão. A Natureza é muito mais enfant-gaté do que supõe a nossa mais ousada filosofia. E Scott, também.
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